O amor fácil

Nas minhas observações diárias do comportamento humano, coisas que nem sempre compartilho neste blog, mas que reflito constantemente, tenho um epifania. Noto de repente que vivemos numa sociedade que podemos chamar  "do descartável": tudo embalado, de fácil acesso, para consumo imediato e/ou pouca durabilidade. Produzimos lixo em excesso porque tudo que temos hoje foi planejado, pensado e projetado para durar pouco, e ao sinal do primeiro defeito ser logo substituído por outro, alimentando assim todo um sistema enclausurado numa lógica cruel de relações de consumo, onde peças, por fim, acabam sendo mais caras que o equipamento inteiro. Não vale a pena tentar consertar,não somos estimulados a isso. É mais fácil e barato comprar outro e jogar o antigo na lixeira. Esse  modelo de relações de consumo foi incorporado inconscientemente nas nossas relações pessoais: é mais  vantajoso procurar uma relação nova do que tentar consertar uma que está quebrada. Para quê esforço se podemos ter algo fácil, barato e totalmente disponível à mão? Vivemos na lei do esforço mínimo, onde até pessoas  são descartáveis. Acho até que algumas realmente se comportam como tal ( de plástico e sem sentimentos: verdadeiros tupperwares) talvez, suponho eu, na tentativa de se enquadrar neste novo padrão e encontrar o seu lugar ao sol, buscando aceitação. Contudo, há sempre os desajustados. São aquelas televisões grandes e cafonas, que tomam todo o espaço da sala, com a imagem em preto e branco mas que insistem em continuar funcionando, mesmo que aquelas tv's de LED com tela 3D implorem para tomarem seu lugar. Ainda existem pessoas antiquadas se considerarmos esse novo conceito pós-modernista de se relacionar, pessoas que ainda acreditam que a palavra de um homem valha mais que um contrato, que embora saibam que a bondade no coração do homem seja rara ainda tem esperança de encontrar.
 Hoje o amor virou lenda. Não o amor dos filmes da Disney, aquele amor utópico de uma princesa presa no torre esperando seu príncipe encantado totalmente passiva diante da situação. Mas aquele amor baseado no respeito e na consideração, coisas que só podem ser construídas na verdade, em palavras sinceras e sentimentos sólidos de pessoas maduras que sabem o que querem da vida e trabalham para construir juntas. Ainda que seja amor, se construído em bases frágeis, está fadado ao fracasso. Então o que restará serão ruínas de algo que um dia foi um sonho arquitetado sem os cálculos certos.(contrate um engenheiro) É de se supor uma catástrofe. Pena que aprendi isso um pouco tarde demais. A princesa de hoje não precisa de um príncipe, ela pode matar seu dragão sozinha. Mas dividirá a carne com quem? 
Então esses aparelhos/pessoas à moda antiga são aqueles que normalmente ficam jogados empoeirados num canto esquecido de uma sala, até um apreciador do estilo os encontrar e eles poderem voltar a ter alguma utilidade, nem que seja na sala de um museu. 

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