Feminismo é...

Há poucos dias suscitou em Belém uma polêmica sobre o aborto devido ao vazamento da gravação de uma conversa telefônica entre o atual deputado Jordy(PPS/PA) e uma mulher identificada apenas como Josy. Sumariamente, Jordy conversa com esta mulher de maneira agressiva alegando que não tem condições de ter mais filhos e exigindo que ela faça um aborto. Ela, em contrapartida, alega que não tem condições psicológicas de faze-lo e que não quer por ter medo das consequências. Ele é agressivo e diz que depois ajudará a pagar tratamento psicológico.
Tratamento psicológico? Quando o corpo é do outro, a vida é do outro e o risco é todo do outro é fácil indicar um aborto como a solução viável. Este escândalo me fez refletir sobre os papéis de homens e mulheres na sociedade. Lutamos há década pela igualdade de direitos, mas ainda é confundida com igualdade de gêneros. Homens e mulheres NUNCA serão iguais por questões óbvias. As responsabilidades são diversas, funções sociais diferentes, o que queremos é o reconhecimento de que não estamos em posição inferior mas igual. Uma posição diferente, não acima, não abaixo, ao lado talvez, mas igual.
Quanto a gravidez, me pergunto que outro papel cabe ao homem senão ao de apoiar a decisão de uma mulher depois que o filho está feito? Depois da irresponsabilidade de AMBOS em permitirem que ocorra uma gravidez não desejada. Se ela decide abortar, talvez porque julgue, em teoria, que tolerará as (possíveis) consequências dos seus atos e acreditem, as consequências, físicas e sociais são sempre mais pesadas para a mulher. Mas o corpo que sofrerá os riscos é o dela. Depois de confirmada uma gravidez não resta ao homem outra posição que não seja ao de apoiar a decisão que toma a mulher. Nem vou levantar o debate por um prisma político, como muitos colegas de outros blogs fizeram, e como o próprio sr. Deputado Jordy explanou. Até porque seria inevitável comparações entre a moralidade(?) de um homem na vida privada e na vida pública.
Apesar de nossa luta por uma igualdade de direitos e não de gêneros, a mulher ainda é colocada em posição inferior. Mera coadjuvante.
Gostaria de remeter a outro caso também recentemente divulgado nos noticiários paraenses, sobre uma mulher no interior do estado que jogou um recém-nascido em um poço. A reportagem seguia alegando: "Mulher mata criança, por não ter condições de cria-la sozinha" A reportagem  esclarecia que a ré procurou o marido mas que teve ajuda negada para criar a criança e ordenou que ela resolvesse o caso como achasse melhor. Após a descoberta da criança morta, a mulher foi presa, confessou o crime e teve que ser transferida de cadeia porque populares ameaçavam invadir para espanca-la. A mulher foi popularmente execrada, pessoas xingando, cuspindo e ameaçando mata-la. Não defendo os atos dela, alias acho que ela pagará caro por sua escolha tanto na justiça dos homens quanto na divina. Mas gostaria de saber o que aconteceu a este pai, e qual a responsabilidade dele no ocorrido? Não por ação mas por omissão. Acaso não é papel de um pai proteger seu filho? Acaso a mulher fez o filho sozinha? Partenogênese talvez.
Outro caso que também pode ser usado para reflexão, é o de um pai que estuprou sua filha de 2 anos, porque a mãe deixou a criança para morar com seu amante. Adivinhem sobre quem a população jogou a culpa pela morte da criança? Não no pai que estuprou, mas na mãe que abandonou.
Sociedade paternalista e machista. E quem ainda paga por isso são as mulheres. Mas a culpa é nossa, a culpa é de mulheres que abominam o feminismo sem entender suas raízes e objetivos. Mulheres que criam e educam homens ensinando-os que somos inferiores, mulheres que não tem preparo para educar mas pelo mero acaso acabam tendo que faze-lo. E mulheres que se voltam contra outras mulheres que estão na causa, em geral, são aquelas que mais fazem uso dos direitos conquistados pelas que lutam para terem seus direitos reconhecidos. 
O termo feminismo é mal interpretado e tido como pejorativo.As pessoas desconhecem o tema mas tem sempre opinião na ponta da língua e pedras na mão. Feminismo não é antônimo de machismo. E lamento profundamente saber de homens, mas principalmente de mulheres que criticam o movimento por simples ignorância e falta de curiosidade em ler, estudar ou apenas perguntar sobre o tema. 
Comparações entre o papel de uma mulher e de um homem serão possivelmente sempre levantadas ao longo da história. Mas cabe a nós não permitir sermos subjugadas. Temos escolha. Basta pensar que temos responsabilidade não de menos,nem de mais. Mais igual. Somos iguais e merecemos respeito sobre nosso corpo e nossas escolhas. 

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