Culto à felicidade - relato de vida

Nas minhas observações constantes dos diálogos do dia a dia tive uma epifania. Notei que vivemos em um verdadeiro culto a felicidade. Em nome da felicidade as pessoas se divorciam, abandonam filhos, largam empregos, quebram promessas, desfazem relações....Tudo sob o pretexto de estarem tentando ser felizes. Então fiquei me perguntando a que ponto vale a pena abdicar das obrigações assumidas com filhos, casamentos, amigos e demais atividades do dia a dia em nome da felicidade. Ser feliz passou a ser uma obrigação, onde vale tudo, inclusive passar por cima da felicidade de terceiros(filhos em especial). São homens e mulheres que se divorciam alegando não estarem mais felizes. Mas quem prometeu felicidade eterna? Pergunto-me se não vivemos uma grande mentira, já que até grandes poetas e filósofos admitem que vida é um equilíbio de tristezas e alegrias. Em nome da própria felicidade as pessoas tiram o direito do outro de ser feliz. Que filho poderia ser feliz vendo sua família desfeita? Não é justo, mas o mundo não é justo, não é E sob este mesmo discurso as pessoas vão pisando umas sobre as outras em busca do próprio céu de brigadeiro, sem ao menos se dar ao trabalho de sentir alguma culpa ou remorso por isso. Alias, é preferível nem pensar a respeito. Depois de um certo tempo ( e certas experiências) aprendi que se deve tomar cuidado com promessas e obrigações assumidas, em especial quando essas situações envolvem sentimentos de terceiros. As vezes, tomados pela emoção, podemos assumir obrigações que não sejamos capazes de levar até o final, e se isso ocorrer é preciso a consciência de que o risco foi assumido por você, logo o único que deveria ser lesado é você. "A má notícia é que o tempo voa, mas a boa é que o piloto é você." Seja homem ou mulher, somos nos quem fazemos a nossa própria felicidade e podemos enxergar o copo meio cheio ou meio vazio, em cada dificuldade uma nova oportunidade de crescer, em cada conflito uma chance de se fortalecer. O quadro favorável ou desfavorável que temos diante de nós, fomos nós que pintamos, então cabe a cada um trabalhar sua própria tela e  refazer seu desenho se este não lhe agrada.  Embora seja muito mais fácil apenas pegar uma tela em branco para recomeçar...é simplesmente mais prático jogar fora e comprar um novo, do que tentar consertar um usado. As práticas insustentáveis das relações de consumo tornaram-se comum também em nossas relações sociais. Isto entranhou-se de tal forma em nossos hábitos e cultura que passamos realmente a acreditar sem questionar que é normal deixar outros infelizes desde que seja em nome da nossa própria felicidade.É cultural e socialmente aceitável. Mas penso que somos responsáveis pelos nossos atos, e se a consequência de uma má escolha é torna-me uma esposa ou marido infeliz( e isso depende da perspectiva) deveríamos assumir o peso dessa consequência ao invés de tentar transferi-lo ou reparti-lo apenas para aliviar nossa própria dor. Tenho o sonho de um dia constituir família (dessas com direito a marido, filhos, papagaio e cachorro juntos) mas se não for possível encontrar alguém  que me dê segurança o suficiente para isso, ou me faltar competência enquanto mulher para arrumar um parceiro compatível com meus ideais, uma vida solitária não me assusta mais do que uma vida conjugal instável ao lado de alguém que eu não possa prometer amar e respeitar pelo resto da vida...
Hoje eu entendo que amor não é um acontecimeno aleatório da natureza, envolvendo um conjunto de reações químicas no nosso corpo. Amar é uma escolha, e como toda escolha deve ser feita sob argumentos lógicos e de um intenso exercício de raciocínio.

" De tudo aquilo que dependemos para ser felizes tornamo-nos escravos. Há quem seja escravo da própria vontade de ser feliz" 

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