Pode entrar, mas por favor, não repare na bagunça, hein?

Comecei há muito tempo uma reforma em casa. Comecei pela fachada onde é mais fácil disfarçar as rachaduras do tempo e as onde as pessoas que passam apressadas pouco reparam. Parti então para a sala de estar, onde recebo poucos amigos. Fiz do ambiente um local agradável. Escolhi minhas melhores fotografias e coloquei na estante. Está tudo sempre limpo e arrumado, ao melhor estilo "clean". Sem decoração em excesso, mas bonito e singelo, eu acredito. Mostrando um pouco da minha vida mas sem deixar muito espaço para intimidades. Uma música ambiente torna tudo aconchegante. Mas é só. É calmo, e recebo alguns poucos amigos ali. Tem o resto da casa, que ainda não consegui ajeitar.
O local que passo mais tempo é no quarto. Ali é uma bagunça. Nunca sei onde encontrar nada.  As paredes tem rachaduras, algumas infiltrações, mofo de material guardado há muito tempo que tento jogar fora mas ainda não consegui pois alguns sacos são pesados. E claro, também tem material de reforma espalhado por todo canto. Tintas de variadas cores, massas, brochas, rolos, ferramentas em geral.... Coisas que eu uso pra tentar consertar o que eu não gosto. E eu sei que tenho muito trabalho pela frente. 
Algumas pessoas sentem-se bem e gostam de mim pelo que conhecem apenas na sala de estar. Eu não contesto. Afinal, a maioria, nunca recebeu sequer um convite pra entrar. Mas me magoa quando as pessoas que confio pra conhecerem o resto da casa, em especial o quarto, que é simples e em constante reforma, não gostam do que veem. Eu sei que não posso culpa-las por isso, pois eu também não gosto de muita coisa. Mas é meu espaço, é minha vida. Afinal, estou quase sempre trabalhando nele sozinha e um dia hei de deixa-lo arrumado como eu gostaria, pois enxergo cada problema detalhado que precisa ser consertado. 
Não preciso dizer que esta não é uma história sobre casas, reformas, nem salas ou quartos. É sobre homens e bichos, e a pouca diferença que algumas vezes tem. 

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