Gravidez desejada mas odiada

   Sei que ando meio sumidaça das postagens mas vou tentar retomar com mais frequência. O motivo se justifica por si só: uma gravidez. Sim, mal cheguei em terras vikings e páh: estou grávida. Não que tenha sido surpresa, já que meu esposo e eu vínhamos tentando há mais ou menos um ano sem sucesso e já cogitando buscar ajuda médica. Então foi uma gravidez que eu estava querendo mas não estava esperando, já que abolimos métodos contraceptivos sem nunca sequer levar sustos. Mas aconteceu e nunca vi meu esposo tão feliz. Ambos temos 33 anos e é nosso primeiro rebento. Uma menina na verdade. Que eu rezo todos os dias que nasça com o temperamento tranquilo do pai. 
  Levamos uma vida financeira e emocionalmente estabilizada conjuntamente. Quem nao é nada disso sou eu sozinha. Larguei um emprego concursado e de nível superior na minha cidade, e tá certo que o salário que o Estado me pagava era uma miséria, mas foi o que me possibilitou a compra do apartamento próprio. Sonho que, quem não tem papai e mamãe bancando tudo, sabe como é suado. Eu morava sozinha e minha liberdade de ir e vir inclusive viajar sempre que eu desejasse era algo que eu adorava na vida de solteira. Na vida de casada também: meu esposo e eu viajamos para muitos países desde nosso noivado( que inclusive foi feito numa viagem atravessando o mar báltico para a Estônia). Eu chamo de sorte ter alguém que gosta tanto quanto eu de aventuras e experimentar coisas novas. Mas pelas bandas daqui eu ainda busco meu reequilíbrio profissional. 
      Contando a história assim pode parecer que eu não tenha perfil para a maternidade. Engano seu. Sempre quis ser mãe e ele pai. Falávamos como seria bom formar uma família e educar uma criança, de como eu gostaria de ter um bebê pra chamar de meu e ele um pequeno pra brincar de lego. 
       Esta foi/é uma gravidez desejada. Uma criança abençoada que vai nascer num país com educação e qualidade de vida invejáveis, com pais amorosos e numa casa onde já terá um quarto todo decorado esperando.
    Mas, porém, contudo, entretanto e todavia não  tudo são flores. Há tambem os espinhos. Que são o motivo do meu desabafo de hoje: os percalços da gravidez. 
          Com toda sinceridade da minha alma, que tenho vontade de esfregar a cara no asfalto quente de quem me diz que a gravidez é a fase mais plena na vida de uma mulher. Que é lindo e mágico estar grávida. Não é, porra! É um saco! É angustiante, é doloroso, é cheio de ansiedade, medos, inseguranças e sintomas. Pra mim é assim. 
         Lembro de quando estava no início da gravidez ( hoje passo da metade), quando minha cunhada me perguntou que sintomas de gravidez eu sentia e na maior ingenuidade respondi nenhum. Porque era nenhum mesmo. Até a oitava semana de gravidez eu achava que poderia bancar a Eva e repovoar a Suécia e todos os países nórdicos com meus filhos. Que poderia ter 2, 3, 5...10 igual minha vó. Que menina boba e inocente eu fui. Hoje eu tenho certeza que será filho único. Explico porquê: Depois de certa altura começaram os vômitos, três a quatro vezes ao dia. Eu já tinha um travesseiro no banheiro. "Ah mas isso para depois de três meses". Me disseram. 10 quilos mais magra e quase 6 meses depois ainda não passou. Eu continuo enjoando, embora com menos frequência. Mas então outras dificuldades começaram a surgir : Gases. Ah gente, eu não vou falar bonito, não. PEIDOS. Peidos horrorosos. Peidos o tempo todo: peidos caminhando, peidos sentada, peidos deitada, peidos respirando, peidos piscando... A noite era necessário amarrar os lençóis na cama para não saírem voando. Meu marido que, era branco e passou a ser amarelo, dizia que compreendia. Ele é um lord e muito gentil para  dizer que se incomodava. Era a parte ruim da gravidez. Mais uma das partes ruins. Lembro de certa vez enquanto ele tentava me convencer de que tinha tesão por mim, um peido estrondoso e sem querer atrapalhou nossa conversa. Rimos. Não tem muito o que fazer nesta situação.
   Então a barriga foi crescendo e os problemas com prisão de ventre começaram a aparecer. Cada ida ao banheiro era um sofrimento. Era como se fosse uma amostra grátis de parto. Uma espécie de curso preparatório com direito a bônus: hemorróidas. Doloridas e sofridas hemorróidas. Eu não sabia o que era isso. Hemorróidas que pareciam simular a cabeça de uma criança saindo da bunda. O vaso sanitário passou a ser meu maior pesadelo. Ele me aterrorizava em sonhos. Lactulona, comprimidos de fibra e complementos especiais para o intestino passaram a andar na minha bolsa com o nome "kit de sobrevivência". Eventualmente, uma dose ou outra relaxava o intestino tanto, que diarréias também eram normais entre uma crise e outra de prisão de ventre. E como se não bastassem os vômitos constantes, gases, prisão de ventre, diarréia, além de todo o cansaço natural da gravidez, eu ainda tinha a sensação de festa junina no estômago. Tinha alguém pulando a fogueira de São João dentro de mim. Uma queimação sem fim. Ou era a santa inquisição com meu boneco de vodu queimando de dentro pra fora. Não era possível ter mais azia do que eu. Ah e eu citei que boa parte dos remédios que tomava eu vomitava também? Talvez porque eu sou extremamente alérgica a muitos remédios ou talvez porque o estômago já estivesse bastante debilitado pelos vômitos constantes.(citei que tenho gastrite também?) Ou talvez porque eu seja mesmo uma grávida nutella que não aguenta tudo o que as mulheres maravilhas e super mães tiram de letra. Eu não. Sinto que esta gravidez tem sido uma experiência de quase morte pra mim. Cada sensação de mal estar, cada queda repentina na pressão,  cada peido constrangedor, cada jato de vômito de dar inveja até na menina do exorcista. É difícil desfrutar e estar feliz quando vc nunca se sente bem. Não vejo a hora disso acabar e ter meu bebê no colo. Talvez eu reclame de outras coisas também, como a dor da amamentação mas até ter novas coisas para reclamar vai ser bom, porque passar 9 meses reclamando dos mesmos sintomas é chato até pra mim. Por isso, como eu disse no início do texto espero que está criança nasça logo e nasça com o temperamento do pai, por favor. Amém. 



Comentários

  1. Prima, como eu adoro seus relatos de gravidez. Acabo sempre rindo muito. A Eleonora chegou chegando. Te mostrou de cara que sua vida nunca mais será a mesma. Daqui ela vai estar no teu colinho e a cada dor de ser mãe, uma satisfação inigualável pelos sorrisos e gestos que ela te enviará. Que mamãe forte vc está se tornando, mesmo que no momento vc se sinta tão frágil. Boa sorte primoca. Que DEUS ilumine sua família hoje e sempre. P.S. QUE sua filhota venha com sua sagacidade e humor ácido para escrita...

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  2. Acho legal vc escrever o que está sentindo de verdade. Esses mitos de que tudo na maternidade é maravilhoso são ruins. Criam expectativas totalmente erradas!
    Eu fico doida quando dizem que criança não dá trabalho. Vá tomar banho! Criança dá trabalho pra caramba! A
    "Ah, mas se vc educar direito..." Até parece que a criança se educa sozinha!
    Tá mais do que na hora de as mulheres pararem com essa santidade da maternidade.
    Parabéns pelo texto.

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  3. Espero que essa menina, dádiva de Deus, lhe traga o equilíbrio que falta à você... Muito feliz por essa notícia, parabéns para você e seu marido.
    Bargas.

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